A verdade numa ilusão.

Ele já tem todas as respostas, todas detalhadamente formuladas antes mesmo das perguntas... Mas todas de histórias já redigidas, cenas roubadas de outras novelas, falas já ditas por outros personagens. Todas as expressões plagiadas dos mais novos dramas, as belas frases retiradas de velhos scripts... O "eu te amo" ? Mais um para as paredes. Enquanto escreve com o próprio punho contos repetidos, escreve sua própria história, uma nova velha história, talvez uma tragédia. Cada episódio é outro já ouvido antes, enquanto vira as páginas, escreve sobre o mesmo enredo que está preso sem se dar conta. Todo problema tem uma solução... Mas ele nem mesmo se dá conta de que tem um problema. Fantasia sua vida numa perfeição utópica, perde seus passos nas nuvens do sonho que acha que vive. Pensa que vive uma vida simplesmente maravilhosa, mas o que falta é ele ser simples... Simples, de coração. Seu coração vive acorrentado em um calabouço, que ele fez questão de esconder a chave e nunca mais lembrar de achá-la. As palavras, das mais sinceras até as mais desesperadas, não o abalam. Os toques não conseguem atravessar aquele belo rosto... marmorizado. Ele se esqueceu dos vários verbos que compõem a vida... Apagou todos que constroem as boas memórias... Sentir, tocar, abraçar, beijar, cantar, ouvir, amar... de verdade. É fácil colocar-se no "piloto automático", difícil é encarar a vida, mas encarar, é o que gera incontáveis sensações inesquecíveis. Ele não se dá conta do potencial que ele pode atingir. Do frio na espinha que poderia causar, do alívio que um sorriso sincero poderia dar, da verdade que transbordaria de um abraço apertado e da arritmia que uma bela frase poderia causar com aquela voz aveludada. Mas eu desejaria nunca mais ver aquele imenso vazio nos seus olhos, que se destacam quando ele sorri, que se mostram quando ele menos se dá conta. E em vez daquele vazio, gostaria de ver o brilho de um olhar autêntico, que para ser sincera, eu nunca vi... Mas que deve ser incrível. Sinto falta da sinceridade depositada em um olhar nunca visto.