Vodka, lágrimas e descaso.

O copo chega à boca, mas não chega a tirar a solidão.
Aquele descaso básico, simples e rotineiro.
Você está tomando mesmo essa tal de vodka ou é somente um apelido para as suas lágrimas não saírem em meio ao desespero?
Engole o choro, engole, toma mais, mais, mais, mais dessa vodka.
"Assim você esquece", é o que repete todos os dias.
Mas... Será que esquece mesmo? Se sim, porque se anestesiar todo santo dia?
Você reclama do dinheiro, aquele dinheiro que você gasta tentando amenizar a dor, amenizar com vodka, segurar as lágrimas e desfrutar do descaso. Você reclama da falta de atenção, mas quem vai dar atenção para quem parece não se importar com nada, nem com si mesmo?
No fundo você se importa, eu sei. Então, manda essa maldita vodka pro inferno, derrame as lágrimas guardadas a tanto tempo, e livre-se desse constante descaso, que isso não vai te por para frente.
Parece que a cada passo que você dá, volta também três. A cada lágrima que você segura, nascem mais quatro. A cada toque que você prova, deseja cada vez mais aquele outro, aquele que você tenta apagar com vodka, lágrimas presas e descaso. Aquele sorriso que te mata mais e mais cada vez que lembra que ele não te pertence, não te pertece mais.
Já pertenceu uma vez. Essa vez já passou, e você ainda preso nesse passado congelado que te afunda cada dia mais.
E essa vodka? Não te ama, nunca te amou. Anéstesico miserável, vai e vem mais forte. Igual tristeza... Cada vez que você se estristece pela mesma razão, ela volta mais forte.
E essas lágrimas? Deixe-as sair, quem chora lava a alma. Você está precisando.
E esse descaso? Grite que não o quer mais.  Ele está servindo como um escuro para o exterior, enquanto no interior você se auto-flagela.
Seja melhor, seja são. Da mesma forma que você já foi um dia. Do mesmo jeito que todos aqueles risos que você tanto sente falta, eram para você, da maneira que você era, da maneira que você agora julga idiota.
Acorda, idiota você está sendo agora.